quinta-feira, 19 de março de 2009

Boa Sorte!

No momento desse post eu tenho 22 anos. Estou na deliciosa faixa etária dos processos seletivos. Aquele período da sua vida que você larga a vida boa de só estudar e pedir dinheiro para sua mãe e vai atrás do ideal capitalista de sustentar suas vontades.

Eu optei por tentar ganhar a vida na área de Humanas, ou seja, essas profissões que se trabalha com pessoas que falam muito. Eu falo muito. Então os processos seletivos além de longos, são quase laboratórios de amizades relâmpago. Aqueles momentos que o cara te libera para uma água, mas você sabe que está sendo observado, então conversa e gesticula com todo mundo para mostrar que têm o perfil do contratante.

Aí, quando acaba aquela experiência única de se auto-elogiar, mostrar seus defeitos que são qualidades disfarçadas ("Eu sou perfecionista" é o típico defeito de todas as pessoas que fazem processos seletivos) e fazer dinâmicas de grupo ausentes de alguma lógica, você se despede dos seus melhores amigos dos últimos 40 minutos com um "Boa Sorte!"

Convenhamos... Se o cara realmente tiver a sorte que você desejou, ele vai ficar com o cargo que, por tanto almejar, fez você vestir aquela única roupinha arrumadinha que existe no seu guarda-roupa.

Não existe nada mais falso e politicamente correto que o "Boa Sorte!" depois de um processo seletivo. Você quer mais é que o cara se estrepe! Diz isso, mas pensa "Se ferrou, seu gago!", ou então "Essa filha da mãe falou o que eu ia falar na dinâmica primeiro que eu. Cachorra!". No máximo, no melhor dos corações, se continua a frase internamente com "Na próxima seleção, porque essa vaga é minha, meu bem!"

Acho que é isso. Ou então você quer que a pessoa tenha sorte, mas tanta sorte, que case com um Sultão multimilionário e não precise daquela reles vaguinha que paga bolsa, transporte e alimentação, deixando o caminho livre para você.

sexta-feira, 6 de março de 2009

dinheiroXamor

Meu irmão está na época de pré-vestibular e isso me fez pensar na minha época de pré-vestibular.
Vida difícil. Não a parte de estudar e ter que fazer provas. O problema era escutar todos os adultos: professores, parentes e intrometidos divagando sobre a importância da escolha do seu emprego.

É você ser um moleque de 17 anos e escutar que deve decidir o resto da sua vida naquele momento, quando tudo o que se quer é ir a praia e depois ver uma comédia pastelão na casa dos seus amigos.

As teorias são múltiplas. Fazer o que família toda fez, fazer o que o mercado de trabalho pede ou fazer o que se ama. Quero falar da última opção.

Por que essa é considerada a opção mais correta e bonita de se seguir? "Nossa ele teve coragem, ele foi trabalhar com música!" Gente, se eu já amo fazer de graça, para que raios vou me preocupar em fazer por troca de dinheiro?

Eu amo escrever, não é a toa que tenho 3 blogs. Passo horas fazendo desenhinhos bonitos para o layout, pensando em assuntos, revisando meu português, deixando de fazer trabalhos para a faculdade com os olhos ardendo em frente a um computador... Tudo isso sem receber um tostão, aliás, tendo quase certeza que nem lida, eu sou!

Aí, um gênio da cultura de boteco me diz: "para você ser feliz de verdade, tem que ganhar a vida sendo escritora! Se você não fizer isso, está fadada a depressão!" Ou seja, o cara me amaldiçoou duplamente: ou, possivelmente, serei uma escritora frustada que ganha muito mal, ou uma frustada que não ganha dinheiro escrevendo!!!

Vou acoplar dinheiro, esse assunto complicado que faz nossos pais mudarem de casal apaixonado para dois velhos em guerra, a alguma coisa que amo quase que magicamente sem motivos, com que intuito? Estragar? Porque é essa a única coisa que consigo pensar. A frase "Tenho que escrever a merda desse capítulo hoje, senão a Cia das Letras come o meu rim!" (Sim, eu penso alto) não parece bela aos meus ouvidos e me parece óbvia na vida de quem escreve para viver.

Eu penso nas pessoas ricas, os executivos. Será que eles amam executar? Às vezes amam adrenalina, fazer 847 coisas ao mesmo tempo. Mas, duvido, de todo coração, que alguma criança de 6 anos falasse "Quando crescer, quero organizar planilhas!", a maioria delas em algum momento já sonhou em ser gari só para ter a autoridade de pular de um caminhão em movimento quando bem entendesse.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Isso é pra você dar valor ao que você tem!


Estou fazendo um trabalho sobre o documentário Ilha das Flores (lindo, por sinal). Eu já havia assistido esse documentário e nessa revisitagem ao link li o seguinte comentário: "Este curta é excelente. Nos ajuda a conscientizar a importância de darmos valor ao que temos." Não vou dedurar o ser que disse isso, mas posso falar que um xará seu foi canonizado e tem o apelido de ser o cara das causas urgentes.

Mas, mesmo que eu dissesse, ninguém ia achar nada demais. Aliás, as pessoas pensam o mesmo e se não pensam, acham a sacada desse pseudo santo quase genial.

Para aqueles que não conhecem o documentário e não cederam ao link que eu, burra-sem-nenhuma-noção-de-marketing-online, coloquei em minha primeira frase desse post resumirei a história. Ilha das Flores faz a trajetória de um tomate e através dessa mostra as relações entre homem-trabalho-dinheiro-comida-lixo e como todas essas palavras chaves podem ser opostas ou sinônimos.

E nesse comentário está exposto uma das lógicas mais grotescas do Ser Humano. Mais que não saber dividir, desperdiçar ou tratar outros humanos como não-humanos. A necessidade bizarra que precisamos de ver pessoas que sofrem por não ter o que temos e, só por isso, valorizar o que temos.

Quantas pessoas devem parar para pensar que a visão é uma coisa linda e poderosa ao ver o pôr-sol? Sempre que olhar um céu estrelado pensar "Caraca, enxergar é uma parada incrível." Mas, quando se vê um cego com dificuldades para atravessar a rua a primeira coisa que vêm a cabeça é "tenho que agradecer a Deus por ter minha vista intacta."

Para quem acredita em Deus: acha que ele fez pessoas com problemas só pra você lembrar como a sua vida perfeita é boa? Ou pra você aaprender a parar de lamentar só porque sua empregada colocou sal demais na sua comida?

Para quem não acredita: acha legal ver alguém se ferrando para você ver que você tá bem?

Não estou falando de ismos ou de revoluções. Falo do sentimento mais básico. De valorizar o que se têm, o que se é, só por reconhecer como aquilo é legal, como aquilo é foda, como aquilo é divertido e mágico. Não porque alguém não tem, aí se percebe o quanto é maravilhoso.
 
Creative Commons License
This blogger texts by Renata Sofia Santos Freire is licensed under a Creative Commons Atribuição-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.