segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A uma semana da sentença

Quando fiz 3 anos de idade não sabia fazer o 3 convencional com os dedos. Segurava o anelar com o polegar e deixava o mindinho, o dedo médio e o indicador a mostra. Quando a sociedade conseguiu me padronizar e eu passei a fazer o 3 comum (segurando o mindinho com o polegar e mostrando os três dedos do meio) queria mostrar pra todo mundo.Adorava quando me perguntavam na rua "que menina bonitinha,quantos anos você tem?" e eu toda feliz mostrava meu 3. Lembro que no início era difícil, eu usava a mão esquerda pra ajudar a posicionar os dedos da direita. Ia ajeitando no carro e já andava ‘armada’ no shopping, pra primeira pessoa que perguntasse eu só levantasse a mão, rápida como um raio.Gostei tanto da minha habilidade adquirida que quando não puxavam o assunto idade, eu puxava. Lembro de conversar com um adulto e perguntar "Quantos anos você tem" ele me disse algum número qualquer. Como pra mim aquilo não significava nada completei "Mostra no dedo". Nesse momento tive uma das primeiras grandes revelações na minha vida: "Não dá pra mostrar no dedo, lindinha". Como assim, não dá pra mostrar no dedo? Isso existe? Fiquei muito perplexa e achando que aquele adulto só não tinha aprendido ainda o jeito certo, me senti super superior.

Quando tinha 7 anos lendo meu livrinho de estudos sociais descobri que as pessoas passam a ser adultas aos 21 anos. Fiquei tão feliz que demoraria uns mil anos pra acontecer aquilo comigo...

Hoje eu tenho 20 anos e 358 dias.
Daqui a uma semana terei 21 (dia 28 de janeiro, não sejam loucos de esquecer).
Ou seja, daqui a uma semana eu serei adulta E não poderei mais mostrar minha idade com os dedos (sou normal, só tenho 20 dedos entre mãos e pés). Dá para imaginar o baque na minha vida?
Eu já senti tudo o que poderia sentir por essa data: medo, ansiedade, irritação, desanimação.

Parece que estou prestes a entrar no mar gelado. Por mais que eu saiba que depois de totalmente mergulhada, vai ser uma das coisas mais gostosas que eu poderia fazer em um dia quente; enquanto só sinto o água gelada batendo no meu dedão, sobe um arrepio pela espinha que me tira a coragem de me jogar de cabeça. Primeiro molho os pulsos e a nuca, porque alguém me disse que é melhor assim. Faço o sinal da cruz, sorrio. Olho pro horizonte achando que Yemanja sabe o que eu espero. Entro a base de pulinhos e gritinhos. Chego até a metade e desisto. Mas é um dia tão quente.... Eu preciso me entregar! E o mergulho vem junto com uma onda, que vem com tudo para acabar todo doce que eu estava fazendo.

Sinto a correnteza me puxar cada vez com mais força. E nesse quesito "ficar velha" não posso simplemente desistir e voltar por mais 5 minutos pro sol.
 
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