domingo, 10 de agosto de 2008

Não sou luciano, mas vou falar

A onda não é ser assaltado e fazer um artigo?
Então: lá vou eu.

Eu, como boa parte das pessoas da minha idade e da minha faixa financeira, não tenho carro.
Eu, como boa parte das pessoas da minha idade, saio aos fins de semana.
Eu estava no ponto de ônibus a noite.

Por que eu iria achar que duas pessoas bem vestidas em uma moto nova estavam parando para levar minha bolsa?
Então um cidadão que provavelmente não tem mãe (por que se tivesse, não empurraria nem arrancaria um colar de uma mulher a força), decidiu que poderia levar minha bolsa e da minha amiga. E levou.

Chorei por uns 40 minutos.Eu só pensava nas fotos e nos bilhetes de cinema que eu guardava com tanto carinho. No meu predendor de cabelo que comprei pro meu aniversário de 15 anos. No chaveiro que minha tia me trouxe da Bahia.

Bloquear celular. Ver plano de saúde. Bloquear cartão (acreditam que a atendente tentou usar da situação para me vender um seguro?).

Enquanto minha amiga sentia raiva eu só me sentia pequena, indefesa, estúpida.

Fomos a delegacia.Primeiro para achar aquele lugar foi quase impossível. Os Garotinhos fizeram delegacias que parecem casas de boneca e esconderam.

Descrevi o que aconteceu. Como foi.
Eu sempre gostei de seriados americanos de policia. Cold Case, CSI, Without a trace... Sei que a realidade não chegaria nem próxima, mas passei a entender a revolta que minha amiga sentia.

Não existe investigação na polícia carioca. Existe um cara com uma arma no bolso que faz uma "isenção de taxas para documento" ou Boletim de Ocorrêcia, como é conhecido.

O assalto tinha acabado de acontecer.
Em um dos seriados que eu assisto na hora um rádio seria passado "a todas as viaturas, fuga de meliantes em moto na direção tal".
Mas, na realidade que vivemos, o cara parou para comer pizza. Deixou duas meninas com cara de assustadas sentadas em cadeiras desconfortáveis, num ambiente novo, para comer pizza.

O cara falou algo como "infelizmente, só vira estatística", mas nem isso eu me sinto. Esse tipo de assalto não é novidade por onde eu moro. O horário que ocorreu é quase o oficial para ter as coisas tomadas no bairro.
Se realmente fosse estatística teria uma viatura, um fusquinha pintado de azul que fosse, por aqui. Mas acho que a estatística do meu bairro não entra em conta.

Não vou falar de questão social, drogas, filhos mal cuidados nada disso. Não quero entender a lógica de quem rouba. Quero entender a lógica de viaturas estacionadas em uma delegacia DESATIVADA, mas nenhuma dando uma volta no início da noite de sábado, evitando que pessoas perdessem bens pessoais e de valor único.
 
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